Dois terços dos acidentes na construção civil não vira estatística

A morte do trabalhador Luiz Fernando Malgarin, de 24 anos, na última sexta-feira (16) na edificação das obras de um colégio municipal no bairro Parque dos Ipês, em Cascavel, estimulou o debate sobre a segurança dos trabalhadores na construção civil. O rapaz, que morava na cidade de Salto do Lontra, almoçava quando a laje desabou e o deixou prensado em meio ao concreto. Desde o início do ano já são três acidentes de trabalho na construção civil em Cascavel, mas o problema é que a maioria deles nem viram estatísticas.



De acordo com Roberto Leal Americano, presidente do Sintrivel (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Cascavel e Região), no ano passado foram registrados 47 acidentes no setor com quatro mortes – duas por choque elétrico, uma após um muro desabar e outra por soterramento. O sindicato estima que o número de acidentes que viram estatística corresponde de 30% a 40% da realidade já que a grande maioria acaba sendo escondida pelas empresas e os próprios trabalhadores. “Esses números são muito superficiais”, diz Americano. Em alguns casos o próprio trabalhador procura atendimento médico ou é levado pelo empregador a uma unidade de saúde sem formalizar a CAT (Comunicação de Atendimento de Trabalho).

No acidente da semana passada, Americano vê alguns problemas como a falta de um espaço adequado para a refeição dos funcionários. O rapaz que morreu almoçava sob a laje quando ocorreu o desabamento. Outros dois conseguiram escapar a tempo, antes do desabamento.  O Sintrivel diz que está acompanhando as investigações e levou o caso tanto ao Ministério do Trabalho quanto ao Ministério Público do Trabalho.

O Município instaurou uma sindicância para apurar o acidente. Três servidores serão nomeados e num prazo de 30 dias devem entregar um relatório sobre o caso. Esta etapa da obra está custando ao município R$ 3,3 milhões. Ontem (19) não havia ninguém no canteiro de obras e os trabalhos devem ficar suspensos até a conclusão da sindicância.

Relatório

O engenheiro Murilo Granado, agente fiscalizador do Crea-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná) elaborou ainda na sexta-feira um relatório de sinistros com os dados do acidente e posteriormente será feito um relatório circunstanciado com imagens do local e documentos sobre a obra. Esse relatório será analisado por uma câmara especializada do órgão que vai apontar se houve algum tipo de negligência, falha ou imperícia do profissional responsável pela obra. Segundo Granado, um perito judicial (formado em engenharia) também fará um relatório sobre o acidente, inclusive sobre a qualidade do material usado. “Esse perito tem o direito de embargar a obra”, diz Granado.

A dona de casa Rita de Cássia Oliveira Freitas mora em frente à Escola Municipal Professor Ademir Correa Barbosa, local onde o trabalhador morreu. Ela conta que com frequência os trabalhadores da obra iam até sua casa pedir água. “Um dos rapazes falou que não quer saber mais do trabalho depois do que aconteceu”, conta. Ela acredita em fatalidade, mas desconfia da falta de segurança aos trabalhadores e diz ter receio da qualidade da obra. “Imagine se acontecesse [o desabamento da laje] quando a escola tivesse pronta, cheia de alunos”, comenta. Ela afirma que provavelmente sua filha que atualmente estuda no Caic será uma das alunas da nova escola.

Em 2012 ocorreram 48 acidentes na construção civil em Cascavel e outros 53 em 2013. No ano passado foram registrados 47 e quatro óbitos. Nos dois anos anteriores não houve registro de mortes em acidentes de trabalho.

As quedas de alturas são as principais causas de acidente de trabalho na construção civil. No ano passado, das 47 ocorrências registradas, 26 foram por queda de altura. De acordo com o Sintrivel muitos acidentes seriam evitados se o trabalhador usasse cinto de segurança, porém, alguns esquecem de usar o equipamento de proteção individual ou simplesmente ignoram. Os choques elétricos aparecem em segundo lugar na lista das causas de acidentes na construção civil seguido de quedas de objetos.

Na tarde de ontem aconteceu um acidente de trabalho ligado à construção civil na zona rural de Santa Tereza do Oeste. O trabalhador André Nunes Barreto, 25, estava trabalhando na construção de um barracão quando uma estrutura metálica da cobertura caiu sobre ele.

Na próxima sexta-feira (23) operários da construção civil que estão levantando o Edifício Sílvio Kissula, da construtora Saraiva de Rezende, irão parar para receber informações sobre segurança de trabalho.  A iniciativa é do Sinduscon-Oeste/PR (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Oeste do Paraná), e serve de alerta para a necessidade de prevenção de segurança dentro de um canteiro de obras. De acordo com o engenheiro de Segurança no Trabalho do Sinduscon-Oeste, Agnaldo Mantovani, cuidados como uso de EPI (Equipamento de Proteção Individual), noções de primeiros socorros e outros assuntos relacionados ao tema serão levados aos trabalhadores. Além dessa iniciativa, outras semelhantes serão realizadas no decorrer do ano em locais distintos. 




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