Hospitais registram aumento no atendimento a acidentes de trabalho



A Santa Casa de Londrina atendeu, nos primeiros cincos meses deste ano, 312 acidentes de trabalho. São 77 a mais do que no mesmo período de 2010. O Hospital Universitário (HU) atendeu 173 de janeiro a maio deste ano, e 169 no mesmo período em 2010. De acordo com dados do INSS, em Londrina, entre janeiro a abril deste ano, 555 trabalhadores passaram a receber benefícios de auxílio doença em decorrência de acidentes de trabalho. Já a Gerência Regional do Trabalho em Londrina analisou apenas sete ocorrências de acidentes, sendo três fatais e quatro graves.

Sobre o baixo número de casos, o fiscal Rogério Perez explica que chegam a ele mais os casos graves e fatais. “Não somos comunicados sobre os acidentes de trabalho nem pela empresa, nem pelo INSS. Fico sabendo pela imprensa”, afirma. Perez afirma que a segurança no trabalho ainda é muito negligenciada no Brasil e em Londrina não é diferente. “Mensalmente, fiscalizamos em média 80 empresas em Londrina e apenas 5%, em média, cumprem todas as normas de segurança”, afirma. Segundo ele, todas apresentam o Programa de Prevenção de Risco de Acidentes (PPRA). Trata-se de uma espécie de check-up que as empresas são obrigadas a fazer sobre os riscos do ambiente de trabalho e as medidas de prevenção. “Todas fazem, inclusive as pequenas. Mas fica apenas no papel. No dia a dia a segurança no trabalho é negligenciada.”

Falta uma cultura de prevenção, na avaliação de Perez. “As empresas oferecem o equipamento de proteção, por exemplo, mas fazem monitoramento para saber se o trabalhador está usando o equipamento, se ele está tomando medidas de risco. As empresas não treinam e orientam os trabalhadores para evitar acidentes.”

A falta de cuidado com a segurança está presente em todos os segmentos, segundo Perez. “No setor de serviços, por exemplo, muitas empresas não fazem análise ergonômica dos móveis. Este setor é campeão de doença profissional.” Em frigoríficos também há grande ocorrência de auxílio doença. “A rotatividade neste setor é muito grande por causa das condições de trabalho.”

Na construção civil, embora tenham ocorrido dois acidentes na segunda-feira, um em Londrina e outro em Cambé, dos sete casos em análise na Gerência Regional do Trabalho [os dois casos da última segunda-feira, a Gerência desconhecia], apenas dois são do setor. “Aqui para nós a maioria não é da construção civil, embora estes sejam mais graves”, diz Perez.

O gerente regional do Trabalho e Emprego, Dorival Silvestre Arantes afirma que na construção civil os acidentes ocorrem mais em obras pequenas e particulares. “São acidentes de pessoas que caem do telhado, outro é soterrado fazendo um muro de arrimo. Grandes obras estão cumprindo corretamente com as normas de segurança.”

Jornada estendida é comum

Outra prática muito comum nas empresas de Londrina que passam por fiscalização da Gerência Regional do Trabalho, de acordo com Rogério Perez, é a prorrogação da jornada de trabalho. “Ainda é muito comum em todos os segmentos, a fadiga por excesso de trabalho provocado por muitas horas extras. Quanto mais tempo o funcionário ficar dentro da empresa, maior o risco de acidentes”, explica.

Perez afirma que as empresas são multadas (valores que podem variar entre R$ 1 mil e R$ 30 mil), mas ainda assim há casos de reincidência. “Se a empresa está em um bom momento financeiro ela investe mais em segurança, mas senão este é o primeiro item que ela corta.”

Redução nos canteiros de obra

Segundo o engenheiro Gerson Guariente Júnior, presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon) não é só a quantidade de acidentes nos canteiros de obras que está em queda. “A intensidade também diminuiu muito”, diz. Parte da queda das ocorrências na grande construção civil é creditada à atuação, nos últimos 10 anos, do Comitê de Formalização da Mão de Obra, que aborda e orienta diversas medidas para aumentar a qualidade da prestação de serviços no setor. 

Segundo o engenheiro, “o índice de acidentes no setor é baixo” porque, com mais organização, a quantidade de trabalho individual cai e o ambiente se torna mais seguro. Guariente explica que obras onde o trabalhador resiste em usar os equipamentos de proteção são cada vez mais raras. “Até porque, em um ambiente organizado, dispor dos equipamentos não é gasto, é investimento.” Para o trabalhador que se nega a utilizar equipamentos de segurança, a solução é legal. 

“O construtor primeiro pode adverti-lo verbalmente. Se nada for corrigido, pode formalizar por escrito. Há risco, depois, de o trabalhador levar uma suspensão e até mesmo ser demitido pela recusa dos equipamentos.” (Marcelo Frazão)

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